segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Gotas de Suor


As gotas escorrem pelo rosto, passam pelo queixo e, antes que pinguem, são secas com o dorso da mão.  Não são lágrimas, são gotas de suor.  O corpo inteiro toca uma sinfonia harmoniosa para os treinados, desafinada para os iniciantes, mas a música é sempre a mesma e todos caminham na mesma direção.  A beleza da corrida é simples.  Ela é o lugar em que você está consigo mesmo, e ninguém mais.  Sim, você pode ir com um grupo de corrida, com uma caravana ou correr a meia maratona do Rio no meio de vinte mil inscritos, mas, na pista, é você, só você.  Na pista, você vai conseguir sentir as batidas do seu coração, vai perceber o ritmo da sua respiração, vai notar a infinidade de fibras musculares que trabalham naquele momento, sem parar, para levar o seu corpo adiante num esforço fora do cotidiano.  E essa música, ah, ou você vai amá-la ou, sinto dizer, vai odiá-la.  Porque a corrida é assim; é um esporte tipo “ame” ou “odeie”.  Não dá para expressar em palavras.  Mas eu garanto... Se você superar a dor do início, vai entrar num universo novo, sem volta. 
Cada portal de largada de uma corrida vai deixar você com nó na garganta e o coração na mais pura adrenalina, já esperando pela ação!  A energia de dezenas de milhares de pessoas em prol de um objetivo quase coletivo é indescritível.  Corredores são solidários uns aos outros, porque, no fundo, ninguém ali liga para a colocação em que ficou na prova.  Cada um sabe o que quer e o verdadeiro corredor só quer uma coisa:  superar a si mesmo.  Na corrida você provavelmente vai encontrar aquela pessoa que se curou de uma doença grave e hoje celebra a vida e a saúde; vai encontrar aquela que buscou nos grupos de corridas amigos e até um novo amor; vai encontrar o ex-fumante que hoje é atleta; a pessoa que ouviu do médico que nunca seria capaz de correr; o amputado (que tem lindas pernas de carbono e sempre me deixa comendo poeira!); o cadeirante, o cego, o surdo, o gordinho que já emagreceu 15 quilos, o executivo estressado, o senhor da terceira idade.  A corrida é democrática por natureza.  A pista é de todos.  Quando um atleta abandona a prova, é sempre com tristeza que eu sigo em frente.  Sei que, por dentro, ele está pensando:  “Eu fracassei, não consegui” e, secretamente, peço que ele não desista do seu sonho de completar a próxima prova.  Não raro batemos palmas durante uma prova e gritamos para incentivar uns aos outros.  A alegria contagia e as pessoas que observam se enchem por alguns segundo daquela energia fantástica, que flui como uma corrente imensa, e se estende pelos quilômetros por onde passamos.
A linha de chegada é o clímax onde se podem testemunhar as cenas mais lindas.  Corredores carregando corredores, pessoas emocionadas com sua própria vitória, ligando para familiares dizendo “Eu consegui!”, pessoas chorando, se abraçando e muitos, muitos sorrisos cansados. Por trás de cada corredor que termina uma prova tem uma história linda de sucesso, de conquista, isso eu garanto.  Cada um que cruza aquele portal quase mágico vence a competição mais difícil de todas, a superação dos seus próprios limites.

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