As gotas escorrem pelo rosto,
passam pelo queixo e, antes que pinguem, são secas com o dorso da mão. Não são lágrimas, são gotas de suor. O corpo inteiro toca uma sinfonia harmoniosa
para os treinados, desafinada para os iniciantes, mas a música é sempre a mesma
e todos caminham na mesma direção. A
beleza da corrida é simples. Ela é o
lugar em que você está consigo mesmo, e ninguém mais. Sim, você pode ir com um grupo de corrida,
com uma caravana ou correr a meia maratona do Rio no meio de vinte mil inscritos,
mas, na pista, é você, só você. Na
pista, você vai conseguir sentir as batidas do seu coração, vai perceber o
ritmo da sua respiração, vai notar a infinidade de fibras musculares que
trabalham naquele momento, sem parar, para levar o seu corpo adiante num
esforço fora do cotidiano. E essa
música, ah, ou você vai amá-la ou, sinto dizer, vai odiá-la. Porque a corrida é assim; é um esporte tipo
“ame” ou “odeie”. Não dá para expressar
em palavras. Mas eu garanto... Se você
superar a dor do início, vai entrar num universo novo, sem volta.
Cada portal de largada de uma
corrida vai deixar você com nó na garganta e o coração na mais pura adrenalina,
já esperando pela ação! A energia de
dezenas de milhares de pessoas em prol de um objetivo quase coletivo é
indescritível. Corredores são solidários
uns aos outros, porque, no fundo, ninguém ali liga para a colocação em que
ficou na prova. Cada um sabe o que quer
e o verdadeiro corredor só quer uma coisa:
superar a si mesmo. Na corrida
você provavelmente vai encontrar aquela pessoa que se curou de uma doença grave
e hoje celebra a vida e a saúde; vai encontrar aquela que buscou nos grupos de
corridas amigos e até um novo amor; vai encontrar o ex-fumante que hoje é
atleta; a pessoa que ouviu do médico que nunca seria capaz de correr; o
amputado (que tem lindas pernas de carbono e sempre me deixa comendo poeira!); o
cadeirante, o cego, o surdo, o gordinho que já emagreceu 15 quilos, o executivo
estressado, o senhor da terceira idade.
A corrida é democrática por natureza.
A pista é de todos. Quando um
atleta abandona a prova, é sempre com tristeza que eu sigo em frente. Sei que, por dentro, ele está pensando: “Eu fracassei, não consegui” e, secretamente,
peço que ele não desista do seu sonho de completar a próxima prova. Não raro batemos palmas durante uma prova e
gritamos para incentivar uns aos outros.
A alegria contagia e as pessoas que observam se enchem por alguns segundo
daquela energia fantástica, que flui como uma corrente imensa, e se estende
pelos quilômetros por onde passamos.
A linha de chegada é o clímax onde
se podem testemunhar as cenas mais lindas.
Corredores carregando corredores, pessoas emocionadas com sua própria
vitória, ligando para familiares dizendo “Eu consegui!”, pessoas chorando, se
abraçando e muitos, muitos sorrisos cansados. Por trás de cada corredor que
termina uma prova tem uma história linda de sucesso, de conquista, isso eu
garanto. Cada um que cruza aquele portal
quase mágico vence a competição mais difícil de todas, a superação dos seus
próprios limites.
Nenhum comentário:
Postar um comentário