segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pingos de chuva


Os pingos de chuva na janela fazem uma sinfonia das mais lindas que já ouvi.  Adoro dias de chuva.  As gotas no vidro me lembram lágrimas e dão a impressão que o céu também chora como a gente. Como eu.  E esse frio que parece congelar os pensamentos me enche de uma nostalgia de uma vida que não vivi.  Escolhi assim.  Sem marido, sem filhos, sem complicações.  
Amigos me falaram que era bobagem; que todo mundo precisa de alguém, que o amor se aprende com o tempo, com a convivência.  Por que não casar com aquele bom partido que vivia atrás de mim?  Eles não sabem mesmo de nada... 
Não sabem o que é uma tempestade de areia dentro de um coração vazio.  Um coração preso por um amor não correspondido.  Não sabem que alguns momentos podem, sim,  significar uma eternidade.  Que, às vezes, um segundo, um milésimo de um segundo, um sorriso pode significar uma luz maior que o Sol para quem ama.  A sua luz me cegou.
A força do Amor é avassaladora.  Ela entra, destrói e constrói com a mesma violência.  Ela dá e toma no mesmo movimento.  Quem disse que o Amor é dádiva?  Pois o Amor para os que não são amados é pura maldição.
Tenho 54 anos.  Nunca me casei.  Vivi na lembrança de um beijo, de uma lua-de-mel que acabou e deixou marcas eternas na minha alma.  Meu corpo buscou o seu corpo por décadas em outros lugares...  Outros encontros.  Mas nunca foram encontros verdadeiros, nada comparado ao que fomos, quando fomos um só.  Como reviver a Plenitude se você não está mais do meu lado?
Eu ainda tenho esperança.  Agora, mais na espiritualidade, pois o verdadeiro Amor não morre, não acaba.  Não vou desistir de buscar o que você me negou.  O que não teve coragem de viver.  Aquilo do que fugiu quando entrou naquele avião.
Queria voltar no tempo e agarrar suas pernas, grudar nos seus cabelos e nunca deixa-lo partir.  Se eu soubesse que aquela era a última vez que olharia no fundo dos seus olhos...  Mas você partiu e levou tanto com você...  Levou meu espírito, minha luz e minha fé.  Levou a melhor parte de mim.  E deixou o resto aqui. Deixou o que sobrou, os retalhos da nossa história que começou, mas nunca acabou.

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